Por uma Arquitetura mais Sustentável
Mais além da “choupana”.
A degradação do meio ambiente natural e as modificações climáticas atuais estão diretamente relacionadas com as atividades humanas. As noticias não param de mostrar as terríveis catástrofes naturais que tem feito inúmeras vítimas e tem arrasado territórios imensos de forma atroz. Vê-se nisso o troco à maneira como temos cuidado dos nossos recursos naturais e do nosso planeta Terra.
O modelo econômico dos países industrializados foi questionado por primeira vez em 1968 no chamado Clube de Roma. Em 1972, este grupo internacional de intelectuais publicou um documento combatendo o crescimento onde se defendia a necessidade de se associar a proteção à natureza com o desenvolvimento econômico. No mesmo ano, em Estocolmo, durante a reunião das Nações Unidas fez-se a primeira reunião sobre o homem e o meio ambiente.
A primeira ministra da Noruega, a senhora Brundtland preparou um texto intitulado “Our Common Future” discutido em 1987 na 42ª reunião das Nações Unidas, no qual foi introduzido o conceito de Desenvolvimento Sustentável.
Na Eco 92, sediada no Rio de Janeiro, os chefes de estado se comprometeram a buscar juntos os caminhos para “um desenvolvimento que responda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações suprirem as necessidades de seu tempo”.
Este conceito baseia-se em três princípios:
- A análise dos materiais na totalidade do seu ciclo de vida
- O desenvolvimento do uso de recursos naturais e energias renováveis
- A redução das quantidades de materiais e energia utilizados na extração dos recursos naturais, sua exploração e a destruição ou a reciclagem dos resíduos.
A noção de desenvolvimento sustentável reflete uma consciência dos riscos ambientais, mas é também um projeto de sociedade que trata de conciliar critérios ecológicos, econômicos e sociais. Os princípios da declaração do Rio se associam a um programa de desenvolvimento para o século XXI, chamado de Agenda 21, que aconselha uma aproximação integrada e criativa na condução do Desenvolvimento Sustentável.
Com isto em vista, podemos dizer que atualmente a arquitetura precisa focar:
- na durabilidade dos edifícios e dos materiais
- na manutenção periódica das edificações para se aumentar a sua durabilidade
- na flexibilidade dos espaços para a reciclagem dos edifícios
- na redução do consumo de energia da edificação, utilizando ao máximo as formas passivas de energia (iluminação e ventilação natural)
- na redução do consumo de água e geração de esgoto
- na redução do uso de materiais de construção e na especificação considerando a energia neles embutida e os processos de produção
- na redução da geração de resíduos sólidos
Alguns caminhos para estes pontos são:
- a racionalização
- a pré-fabricação
- a automação
- a pré-moldagem
- a construção enxuta
Vê-se nisto que há grande tecnologia envolvida, maior tempo de projeto e menor tempo de obra. A sustentabilidade não supõe edificações de bambu ou taipa necessariamente, fazendo-se assim um retrocesso. Trata-se de edificações com alta tecnologia, envolvendo equipes multi e inter disciplinares de profissionais capacitados e atualizados, com conhecimentos específicos sobre processos de produção de materiais de baixo impacto ambiental e energia embutida, sistemas de reuso e aproveitamento de águas, sistemas de monitoramento e automação, sistemas de construção racionais, sistemas de conservação de energia e reciclagem de materiais.
Muitas edificações tem sido chamadas de “ecológicas” por utilizarem sistemas construtivos primitivos e materiais naturais com baixo grau de industrialização, gerando um estilo “choupana”, porém é preciso levar em conta que apenas estes atributos não lhe conferem tal status. É preciso conhecer as condições sociais em que foram produzidos e se os sistemas de alimentação desta construção (água e energia) são sustentáveis gerando o mínimo impacto ao local de inserção.
Ainda que no Brasil não existam por hora parâmetros, sistemas de análise e certificação para a Arquitetura Sustentável, é possível nos espelharmos em modelos e experiências já desenvolvidos e antecipar a nossa atuação, indo de encontro a esta realidade do nosso planeta. Mesmo porque, a sustentabilidade plena passa por uma idéia de equilíbrio e perfeccionismo inatingíveis, uma certa utopia. Ainda assim, projetos e edificações podem ser mais, ou menos sustentáveis, criando níveis ou graus de sustentabilidade na arquitetura, tendendo a se aproximarem cada vez mais deste ideal e, portanto, contribuindo para a proteção do nosso eco-sistema e sociedade.
* Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura Sustentável, LEED Accreditated Professional, Auditora AQUA (HQE), Diretora da Casa Consciente Consultoria e Arquitetura Ambiental. (Mini-currículo)
* Arquiteta e Urbanista, Mestre em Arquitetura Sustentável, LEED Accreditated Professional, Auditora AQUA (HQE), Diretora da Casa Consciente Consultoria e Arquitetura Ambiental. (Mini-currículo)
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