AS SACOLAS PLÁSTICAS NÃO SALVARÃO O MUNDO


02/08/2011
por Fábio Tadeu Araújo* - fabio@brain.srv.br


Ainda não vi a cor de um estudo, mas imagino que vários já devem ter sido realizados para justificar o extermínio das sacolas plásticas. Fiz uma busca rápida pela internet com as seguintes frases: “Porque banir as sacolas plásticas?”, e, “Como as sacolas plásticas prejudicam o meio ambiente?”. Com o perdão do trocadilho, logo descartei as notícias de jornais, que apenas repercutiam a polêmica nesta ou naquela cidade. Do que sobrou, visitei um pouco mais de 50 sites que falavam sobre os temas. Li muito pouco de ciência e muito de opinião.

Parece que o principal motivador para o banimento das sacolas é o seu mal uso -final. Quando descartadas na natureza, em rios ou nas ruas, estas demoram de 100 a 1.000 anos para se decompor. O que me incomoda nesta discussão toda é que virou politicamente incorreto ser a favor da sacola plástica. É como uma luta do bem contra o mau. Se você é a favor, você esta destruindo o meio ambiente. Não importa mais pensar, apenas compramos a ideia de que realmente eliminar a sacola plástica fará bem ao meio ambiente.

Não sou contra a tese de que devemos transformar a economia num processo mais sustentável. Porém, o banimento das sacolas plásticas não fará deste um mundo melhor, poderá, no máximo, nos ajudar a dormir mais tranquilamente, crentes de que contribuímos fortemente para um mundo melhor. Primeiro lugar há uma pesquisa do Ibope segundo a qual “100% das sacolas plásticas são reutilizadas como sacos de lixo” e isso é ótimo. Aqueles com mais de 30 anos devem se lembrar de que usávamos latas e tambores de metal para colocar o lixo. O caminhão passava em frente de casa, pegava as latas, jogava o lixo dentro e devolvia as latas.

Não vou entrar nos detalhes de como isso era horrível para a saúde. Já há muito utilizamos essas sacolinhas para o lixo da cozinha e dos banheiros. Bem, se nós não utilizarmos mais estas horríveis criaturas para colocar nosso lixo orgânico, temos algumas possibilidades: 1) voltar a utilizar latas de metal; 2) instalarmos um minhoqueiro em nossa lavanderia; 3) comprarmos sacos de lixo de plástico normal e; 4) comprarmos sacos de lixo biodegradável.

O primeiro caso é anti-higiênico. No segundo, temos a melhor escolha no sentido ecológico. Dois problemas. Custa entre R$ 400,00 e R$ 1.000 reais dependendo do tamanho e, para quem mora nos apartamentos com área de serviço pequena é inviável, a menos que não queira mais usar máquina de lavar roupa. Comprar sacos de lixo normal não muda nada, ou melhor, muda sim, os mais pobres terão de pagar por algo que hoje recebem de “graça”. Finalmente, na compra de um saco de lixo biodegradável, seremos mais ecologicamente corretos, apenas precisaremos pagar por isso. Eu posso e você amigo leitor, também deve poder, mas nem todos podem. Não pense que R$ 20,00 ou mesmo apenas R$ 10,00 por mês não é nada.

Ainda temos milhões de famílias que sobrevivem com menos de R$ 600,00 por mês. E o pior, no ¬final, veremos que se a cidade tiver uma boa coleta de lixo, quase todo ele acabará num aterro sanitário, o qual não fará a menor diferença para a natureza se o plástico irá se decompor em seis meses ou 100 anos.

Finalmente, mas não menos importante, o problema da sustentabilidade não reside em quantos banhos tomamos por dia; nem se utilizamos etanol ou gasolina; e muito menos se usamos sacolas retornáveis ou sacolinhas de plástico. Não que não sejam questões para refletirmos e atitudes para modi¬ficarmos. É que o cerne da questão do ser sustentável esta na nossa maneira de consumir. Se pergunte quantos aparelhos celulares você já teve e quantos televisores. Vá a seu armário e conte quantos pares de sapatos ou camisas você possui.
A questão fundamental da sustentabilidade está relacionada com a maneira com que consumimos. E hoje somos bombardeados todos os dias com centenas de comerciais que nos estimulam a comprar cada vez mais. Então se lhe disserem que deixando as sacolinhas de plástico você estará mudando o mundo, não acredite, as mudanças ainda nem começaram. Mas talvez você durma melhor mesmo assim.

* Professor de Economia da PUCPR e Sócio da BRAIN – Bureau de Inteligência Corporativa


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